Saber se é possível uma comunidade humana sem divisões verticais entre oprimidos e opressores, bem como discutir seriamente o papel da violência revolucionária – tanto em suas formas ativas (ocupações, manifestações, ação dos black blocks etc.) quanto passivas (greve geral, desobediência civil etc.) – constitui o principal desafio de um pensar que já não pode evitar a constatação de que vivemos sob o estado de exceção econômico permanente. Fundindo exceção e regra, natureza e cultura, público e privado, os poderes imperiais administram a opressão cotidiana e afirmam que chegamos ao fim da história, motivo pelo qual só restaria às sociedades a eterna autorreprodução de um tempo amorfo, desconectado da memória das lutas emancipatórias do passado e incapaz de considerar projetos alternativos de futuro. Para tanto, o mecanismo global capitalista conta com três estruturas – trabalho, espetáculo e especulação – que garantem não apenas sua naturalização (fazendo parecer eterno e inevitável o que não passa de conjuntura histórica), mas principalmente a celebração de sua glória, fazendo-nos acreditar que vivemos no melhor dos mundos possíveis.
Cabe à filosofia radical enfrentar cada um desses três desafios e propor novas formas de produção de riquezas que não estejam conectadas ao trabalho, entendido como outra face do capital e, portanto, tão opressivo quanto este. Do mesmo modo, é necessário denunciar a natureza espetacular do discurso que a ordem faz sobre si mesma, trazendo à luz suas fraturas e pontos fracos, o que só pode ser feito a partir de uma concepção de história descontínua, não-linear e comprometida com a tradição dos oprimidos. Um terceiro passo no projeto de uma filosofia radical seria desmascarar a retórica dos direitos humanos universais que, mais do que produzir transformações sociais efetivas, garante a contínua manutenção do sistema capitalista, assumindo a equação segundo a qual mais direitos – inclusive sociais! – significa mais Estado e, por consequência, mais violência 'justificada'.
As alternativas a esse quadro discutidas no livro passam pela construção de movimentos críticos de oposição ao capitalismo global fundados na convivência e na experimentação horizontal, acêntrica e fluida, cuja potencialidade se centra na categoria do comum. Só o comum mantém as singularidades ao mesmo tempo em que proporciona o compartilhamento de projetos alternativos de mundo em que já não é possível a apropriação das subjetividades da multidão por grupos econômicos isolados do convívio verdadeiramente político, ou seja, feliz, para utilizar uma velha intuição de Aristóteles.
Filosofia Radical e Utopia
Título: Filosofia Radical e Utopia
Subtítulo: Inapropriabilidade, an-arquia, a-nomia
Autor: Andityas Soares de Moura Costa Matos
ISBN: 9788564565180
Lançamento: 2014
Edição: 1
Número de Páginas: 308pg
Formato: 14x21
Acabamento: Brochura
Peso: 386
Coleção: Nómos Basileús
Gênero(s): Ciência do DireitoAndityas Soares de Moura Costa Matos tem experiência na área de Direito, com ênfase em Filosofia do Direito, Teoria do Direito e Filosofia Antiga, atuando principalmente nos seguintes temas: normativismo, teoria da justiça, decisionismo, estado de exceção, biopolítica, debate Kelsen e Schmitt, autoritarismo e democracia, desobediência civil, filosofia antiga, filosofia pré-socrática e estoicismo.