A relação entre arte e verdade remonta às origens do pensamento grego e às críticas platônicas aos limites estruturais das artes miméticas. Saber o quanto a arte poderia se arrogar em condições de dizer a verdade acerca dos entes marcou em muito a filosofia desde Platão. Esse, porém, foi apenas um primeiro passo que logo foi seguido por muitos outros. Acolhendo os impulsos oriundos do horizonte platônico de consideração da verdade das obras de arte, a relação entre arte e verdade atravessou um largo campo de problematização que caracterizou tanto o período helenista quanto a Idade Média. Pensar a noção de imitação e a verdade da imitação alimentou um conjunto enorme de esforços da tradição e se transformou em tarefa primordial no interior, por exemplo, da arte sacra. No entanto, é somente com os desdobramentos do pensamento moderno que tal relação passa a se inscrever no âmbito da questão da ligação entre verdade e história, entre verdade e tempo histórico. Com isso, surgiu aí simultaneamente a possibilidade de pensar a arte segundo dois paradigmas estruturais: ou bem como expressão do tempo, ou bem como campo de temporalização do tempo do mundo. Passar de uma a outra foi a tarefa primordial do presente livro. Não para ficar apenas no plano da reconstrução da relação entre arte, verdade e história, mas para sondar o quanto a arte dá voz à medida do tempo, de qualquer tempo, de nosso tempo. Ora, mas que tempo é esse que é o nosso? Nietzsche deu a resposta: esse é o tempo do mais terrível dos hóspedes, do niilismo que há muito ronda nossa casa e nos assola. Heidegger, então, acrescenta. Niilismo não somente como desvalorização dos valores tradicionais, mas também e principalmente como redução de todo ser a um construto relacional desprovido de densidade ontológica. Assim, a arte contemporânea parece se ver marcada pela temporalização do tempo do niilismo, parece não passar de arte niilista. A questão, contudo, é que a arte contemporânea revela a situação ambígua do existir atual. Nós não estamos simplesmente condenados ao niilismo, mas a própria situação que gera o niilismo traz consigo na mesma medida a possibilidade de uma temporalidade dissonante em relação a todo niilismo, uma temporalidade não dos momentos em sua vertiginosa sucessão sem duração, mas da reconciliação no tempo entre tempo e eternidade. Eternidade frágil é o nome dessa temporalidade para a qual aponta a arte contemporânea. Instante é o lugar de consumação da eternidade frágil. Ver a arte como consumação do instante eterno e frágil do existir contemporâneo foi o esforço constante do presente trabalho.